29 abril 2009

Os Valentes de Davi





Fui exortado, recentemente, a criar um blog com as minhas pregações e conclusões sobre o que eu tenho aprendido no Seminário de Teologia. Antes de mais nada, preciso me apresentar. Eu sou Daniel, e curso teologia e missões no Seminário Teológico Betel. Tenho 21 anos de idade, e esse não é meu primeiro blog. Quem quiser visitar meus blogs, eu coloco na seção de links.
Recentemente descobri que eu gosto muito das pregações embasadas sobre o meu aprendizado no Velho Testamento: suas guerras, livramentos e romances que dão a ele um ar épico e ao mesmo tempo sombrio. Com base em alguns versículos bíblicos, trago aqui neste primeiro post uma refelxão bem curta sobre um dos textos mais interessantes. Vale lembrar que os textos usados são da versão Almeida corrigida e revisada. Sem mais delongas, eis o texto.

"8 ¶ Estes são os nomes dos poderosos que Davi teve: Josebe-Bassebete, filho de Taquemoni, o principal dos capitães; este era Adino, o eznita, que se opusera a oitocentos, e os feriu de uma vez.
9 E depois dele Eleazar, filho de Dodó, filho de Aoí, entre os três valentes que estavam com Davi quando provocaram os filisteus que ali se ajuntaram à peleja, e quando se retiraram os homens de Israel.
10 Este se levantou, e feriu os filisteus, até lhe cansar a mão e ficar a mão pegada à espada; e naquele dia o SENHOR efetuou um grande livramento; e o povo voltou junto dele, somente a tomar o despojo.
11 E depois dele Samá, filho de Agé, o hararita, quando os filisteus se ajuntaram numa multidão, onde havia um pedaço de terra cheio de lentilhas, e o povo fugira de diante dos filisteus.



12 Este, pois, se pôs no meio daquele pedaço de terra, e o defendeu, e feriu os filisteus; e o SENHOR efetuou um grande livramento."
II Samuel 23:8-12

Gosto de pensar primeiro na instrumentalidade das coisas. Nesse texto há duas armas distintas as quais o narrador se refere: a lança e a espada. O texto bíblico não faz menção da arma usada por Samá em sua batalha para proteger o campo de lentilhas mas, costumeiramente, pensa-se na espada por ser um instrumento de batalha bastante comum em guerras da época. À primeira vista salta aos olhos a quantidade de homens que Josebe matou, 800 sem contar os feridos; mas logo há outros aspectos que devem ser analisados antes, como o por que de usar-se uma lança, e não uma espada como os demais. Contudo, demais versões hebraicas nos trazem a figura de uma alabarda, uma lança afiada e pontuda como qualquer outra, mas que trazia também em sua extremidade um tipo machado, no qual era usado para esmagar e cortar. Assim sendo, fica mais fácil explicar a batalha. Sendo a lança um objeto pesado, ainda que o usuário apenas a brandisse, haveria chance do oponente usar um escudo para bloquear o ataque, por mais que ele fosse jogado pra longe, continuaria vivo para o contra-ataque. Tendo na ponta uma lâmina pesada, essa lâmina poderia com facilidade decapitar, esmagar e triturar escudos e armaduras resistentes. E na batalha, ficaria mais fácil de matar 800.
Mas não é disso que vim falar. Note que Josebe matou 800, mas que o autor não faz menção do número de mortos e feridos por Eleazar. Apenas cita que numerosos foram os homens que caíram pela sua espada, de tal forma que o sangue deles saltava, formando assim uma crosta de sangue e fluidos humanos. Mas o motivo pricipal da espada ter grudado à mão dele foi o cansaço físico. Horas de batalha se passavam, e ele continuava matando e decepando, de tal forma que, de tanto apertar o cabo da espada, sua mão cansou e seus músculos travaram naquela posição. Com isso, a espada se tornara uma continuação de seu braço; ele não precisava mais brandir as espada fazendo força com as mãos; bastava sacodir o braço para que a lâmina vorpal de sua espada decapitasse mais um. E a sua contagem continuava aumentando.
Do último desses três, no entanto, sabe-se muito pouco a respeito de seus recursos e metas, mas sabe-se que ele lutou para proteger um campo de lentilhas. Para nós, acostumados com as comidas industrializadas e com os arroz e grãos em pacotinhos, isso pode parecer insignificante. Mas não é de todo verdadeiro. Aquele campo alimentava a população, alimentava o comércio e ajudava na economia da região, uma vez que podia-se vender para fora todo o excesso de lentilhas e fazer daí uma fonte de dinheiro considerável. Mas voltemos ao lado prático do texto. O texto bíblico nos fala que toda a população corria, e correndo, abandonavam os campos e sua principal fonte de alimentação. Mas de dentro do povo surgiu Samá, que foi defender o campo. Para ele não importava apenas expulsar os filisteus dali, mas em proteger também o que era de sua nação; ele se importava com as pequenas coisas que, apesar de pequenas, podiam fazer uma diferença enorme mais para frente. E bravamente ele foi e defendeu, e o Senhor operou grande libertação ali.

Quero, no entanto, atentar em trazer essas aplicações para o contexto de hoje e fazê-los refletir sobre algumas verdades que descobri. Como segundo plano, gosto de pensar na praticidade da instrumentalidade, de trazer à prática a teoria exposta a nós pela palavra de Deus.
Seria difícil fazer isso sem mencionar os objetos usados. Em toda a bíblia encontra-se o uso de objetos para as mais diferentes funções e condições; desde o cajado que protegia Moisés das feras do deserto, até à lança do centurião que perfurou a espádua de Jesus para cumprir a profecia de Isaías. Neste caso, a lança serviu para matar 800 homens, fora os aleijados e feridos. Foi usado aqui como um instrumento de efetiva matança; cortou fora o mal pelo método mais extremo, que é o da violência física. Diversas vezes os filisteus haviam ignorado a Deus e seguiram aos seus próprios deuses e crenças. Não obstante isso, ainda guerrearam contra o povo de Israel, ungidos do Senhor. Desde já gostaria de deixar bem claro que sou contra qualquer tipo de violência física extrema; sou daqueles que defendem uma palmada dada APENAS na hora certa, desde que a criança esteja ciente do por que de tal punição. A própria palavra de Deus nos dá embasamento disso, mas disso falarei outrora. Aqui friso apenas a necessidade do povo de Deus se defender e defender seu povo: crianças, mulheres e idosos que, por suas próprias limitações, não podem se defender adequadamente em casos de opressão e sítio. Se os hebreus não se defendessem, todos seriam feitos escravos, como no Egito novamente. Deus não iria deixar seu povo ser cativo após a libertação contra Faraó, e ensinou que o povo guerreasse para sua própria defesa.
Percebe onde eu quero chegar? Se a ficha ainda não caiu, vou dar uma ajuda. Constantemente em nossas vidas somos pressionados, obrigados a vivermos cativamente. A sociedade, não bastando depreciar os valores familiares, éticos e morais, quer constantemente ditar aquilo que vestimos, usamos e fazemos. Não digo que não deva existir um padrão, mas que esse padrão não deve ser motivo para que haja preconceitos - sejam eles raciais, religiosos ou de natureza moderna. Constantemente somos pressionados, como se não bastasse, pelo inimigo N°1 dos seres humanos tementes a Deus - Satanás, a serpente que introduziu o pecado e o apresentou à raça humana. E é com ele que devemos ter cuidado. Jesus, ao ser tentado por ele, usou-se do recurso mais simples e acessível ao ser humano - a Palavra de Deus! Por três vezes ele cortou o mal utilizando-se desse recurso, e o fez antes de cair em pecado. Digo que devemos ser violentos quanto às questões espirituais. A serpente quer um pedaço de você? Mostre a ela um pedaço do nosso Deus, e ela fugirá rapidamente; voltou a investir contra você, então invista contra ela também! O que não pode acontecer é abaixarmos nossa cabeça contra o inimigo. O texto bíblico não nos diz acerca dos ferimentos de Josebe, mas pode-se dizer que ele ficou ferido. Afinal, aquilo era uma guerra, e em guerras sempre há feridos. Mas por estar ferido, Josebe não desanimou e continuou a lutar; e lutando feriu mortalmente 800 homens - um número impressionante.

Em seguida, vemos o feito de Eleazar. Ferindo mortalmente vários homens, a batalha já avançava e ele estava começando a ficar cansado. Sua mão já enrijecera, de forma que seus dedos se fecharam na espada. Por cima, havia ainda o sangue que secava e formava uma cola. Por todos os lados, homens feridos gemendo pela falta de membros ou de feridas expostas. Até mesmo Eleazar estava ferido. Mas a espada agora era uma continuação de seu corpo; bastava apenas um pequeno esforço e a espada cortava aquilo que estava a sua frente.
Gosto de pensar como a palavra de Deus é uma arma poderosa. Em Efésios, Paulo discorre maravilhosamente sobre as armas e defesas de um cristão. Após ver inúmeras vezes as armaduras dos centuriões romanos e da guarda do império, Paulo faz um paralelo prático sobre o que seria a armadura do cristão. Ele diz "...e a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus" Ef 6:17. Nós cristãos deixamos a leitura diária da bíblia por questões pessoais. Eu, por exemplo, sempre estou muito cansado. Após um dia intenso de trabalho e estudos, tudo que eu quero é sentar e relaxar, esvaziar a cabeça de qualquer preocupação externa. Aquele é o meu momento, eu e Deus-ou não, pois deixo a palavra de lado, indeterminadas vezes. No parágrafo acima discorri sobre a forma de combater o mal que se levanta contra nós todos os dias; eles está lá, antes mesmo de acordarmos ou de irmos para a cama. O mal nunca descansa contra nós, nunca cessa. A serpente é a primeira a acordar e a última a dormir, sempre de pé para poder nos tragar em sua escuridão. E contra ela, a única arma efetiva é a Palavra de Deus. Jesus ao ser tentado, por três vezes usou a palavra de Deus como base em seus contra-argumentos. Ele conhecia e vivia aquilo que estava falando como a palma da mão dele, como seus próprios hábitos e costumes. Para se entrar numa guerra, é necessário conhecer os costumes de guerra do seu oponente: onde ele costuma atacar mais, que armas costuma usar primeiro, táticas de avanço, táticas de guerrilha e sobrevivencia, o campo onde se vai lutar e - pasme! - até mesmo a condição climática do local e os ventos que ali costumam soprar. Satanás sabe sobre nós. Anos a fio ele estuda o ser humano, suas práticas, seu comportamento, com quem ele costuma falar, como e o que costuma falar, como o ser humano pensa, o que o ser humano gosta, em que o homem costuma pensar e quando...Tudo isso ele conhece de nós. Ele se arma todos os dias em situações e pensamentos e se aproveita disso para nos fazer pecar. Temos que conhecer bem o nosso inimigo quando formos lutar contra ele, mas temos também que conhecer a arma que usamos para combater esse mal. Nesse caso, não conseguimos combater o império por que estamos demasiados ocupados para conhecer a bíblia, conhecer a Deus e de sua palavra de vida-Jo 6:68. O texto bíblico nos diz que a espada de Eleazar se tornou uma extensão de seu corpo; por que de tanto usá-la, ele ficou cansado e seus dedos se fecharam em torno do cabeamento. Quando lemos exaustivamente a bíblia, nosso coração se fecha em torno daquilo que lemos e absorvemos aquela sabedoria. E, assim, a bíblia se torna uma extensão do nosso próprio corpo: a partir daí podemos afastar e derrotar o mal, gerar filhos para Deus(Gn 1:28) e conhecer as armas e inimigos com os quais lidamos.
Outra forma que ajuda a combater esse mal é conhecermos a nós mesmos e nossas limitações. Eleazar estava quase no seu limite, e o Senhor sabia disso. Mas diante da exaustão e do cansaço, da visão grotesca do campo de batalha, ele estava debaixo da misericórdia de Deus, e não desistiu. Conhecer nossos limites, tanto físicos como -e principalmente- espirituais nos ajuda a vencer obstáculos e barreiras.

Por último, mas não menos importante, vemos Samá, defendendo o campo de ervilhas. Coisa engraçada, Samá defender um campo de ervilhas. A vida de Samá valia mais que um campo de ervilhas; por outro lado o campo de ervilhas poderia evitar que muitos morressem de fome. Se de um lado Samá salvasse sua vida, centenas de outros morreriam. Se por acaso ele ficasse e combatesse, havia a chance, ainda que mísera, de abater os filisteus e salvar mais vidas. Diante daquela situação, ele lutava não apenas pelo povo, mas pela fonte de sustento de uma nação. No meio do caos, no meio da devastação que os filisteus estavam fazendo, ele pensou rápido no que devia fazer. Talvez tivesse feito por impulso, já que aqueles soldados eram treinados para pensarem rápido em situações de risco emergente; talvez ele tivesse tido tempo anteriormente; qualquer que tenha sido a situação, ele se levantou e foi a luta, ainda que por uma pequena causa. Em dados momentos da Bíblia isso acontece com frequencia: Moisés foi à frente de Faraó e mais tarde veio a se tornar o amigo de Deus, a quem ele conheceu face-a-face; José foi administrador da casa de Potifar, e por ter sido leal a Deus até mesmo no cárcere, se tornou mais tarde o administrador geral do Egito. No Novo Testamento Jesus prega sobre a parábola do servo fiel, cujo ao servo lhe foi dada determinada quantia para administrar; e por administrar bem e multiplicar os bens que lhe foram dados, foi posto sobre muitos outros bens para estarem debaixo de suas decisões. Portanto, Samá nos ensina uma incrível lição: não importa pelo que estamos lutando, com o que e contra o que...o que importa é sermos fiéis a Deus com tudo que nos é dado, por que um dia isso nos será cobrado. E, cobrados, estaremos contentes em mostrar ao Pai aquilo que nós temos em mãos?

Que o Senhor nos abençoe e nos guarde!

2 comentários:

Bard's Tales disse...

bah cara massa teu blog.

Unknown disse...

Meu nome é Wender Mariano de Oliveira, e primeiramente gostaria de parabenizá-lo pelo belíssimo e importantíssimo trabalho que vem sendo feito attravés desse Blog.
Gostaria de perguntar onde na bíblia diz que a arma usada por Josebe foi uma lança? Irei pregar sobre esse tema em minha igreja e já procurei por vários textos e ainda não encontrei onde a bíblia faz referência a arma usada por ele, quando feriu os 800 de uma só vez.
Que continue vos abençoando muito!