23 agosto 2010

Ensaios sobre a escuridão

N°1
Dor que te rasga de cima a baixo. Quando foi que as coisas ficaram tão insensíveis, sem sal, jogadas à escuridão como um cristão ao Coliseu? Eram bons os tempos em que a hora passava mais devagar, quando não se tinha muitas preocupações, jogávamos papo para os ares na varanda sem preocupar-se com a hora de chegar em casa...
As pessoas crescem. Os problemas crescem, as preocupações crescem, sua ansiedade cresce. De repente as coisas se tornam grandes demais, rochas solidas contra os seus ombros cansados; as paredes ao seu redor rugem de satisfação quando você constata que elas estão cada vez mais perto tirando de você o seu ar, comprimindo seus pensamentos, emoções e ações. "Nunca mais na vida eu vou ver o mundo que me espera", você pensa enquanto ao seu redor tudo parece comprimir seus ossos. Seus pensamentos se tornam escassos, sua respiração mais ofegante, seus olhos não conseguem escarar outra coisa senão seu próprio interior.
Vida de merda - muitos pensam. Vida de merda sim, mas não culpe os outros. Quem se trancou entre quatro paredes foi você mesmo, com sua ingenuidade, pensando que a qualquer momento você poderia sair. Mas não pode. Agora você se encontra aí, preso por sua própria causa, vítima da sua própria inconsequencia, número da sua própria estatística. Afinal, eu tinha a chave na mão para qualquer porta, mas decidi entrar nessa, nesse buraco escuro e frio de mim mesmo. Por saber que a chave estava em minhas mãos, pensei que pudesse achar a porta com facilidade. Doce ilusão, me deti em minha própria cela, vitima de mim mesmo.
Já me disseram anteriormente que o ser humano é o pior inimigo que ele mesmo tem. Me questiono sobre a veracidade disso, embora não possa negar que, se me encontro num período de trevas, a culpa é minha. A chave não devia em momento nenhum estar em minhas mãos. Sou irresponsável, imaturo e, ainda por cima, orgulhoso. Vítima de mim mesmo. E agora a escuridão avança. Idade das trevas. Trevas da idade...

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N°2
A escuridão já foi minha amiga intima. Andávamos juntos em meio a labaredas de fogo, sem saber que quem se queimava era eu. Mas a escuridão é assim mesmo. Ela entorpece os sentidos, endurece o coração, penetra como uma faca afiada bem no fundo da sua humildade efaz sangrar até a última gota o restinho de esperança em você. Alegria não faz mais parte do seu dia-a-dia. Depressão se torna sua mais nova confiança - confiança de que, um dia, tudo vai se acabar em uma poça de sangue na cozinha de casa, com uma faca atravessada em sua garganta e uma marca eterna na mente dos outros. Você fere a si mesmo, mas no fundo, você quer ferir os outros, culpando-os pela sua própria miséria e desgosto. Essa se torna a sua vingança contra a sociedade, contra seus parentes, contra Deus, contra um sistema pecaminoso e injusto que pune os desgraçados e exalta os mentirosos. Esse se torna o seu protesto contra tudo aquilo que você não consegue colocar na cara dos outros; sua culpa devora seu interior, faz de você uma pessoa oca, sem sentimentos, sem reações - uma pessoa fria, indiferente, mas uma pessoa inabalável. É assim quando um osso quebra; ele calcifica e fica mais forte, de forma que nunca quebra duas vezes no mesmo lugar. É isso que a culpa faz com um ser - ela fere de tal forma que a esperança, o amor, a fé, a compaixão, a alegria e a felicidade nunca crescem novamente no mesmo lugar. Buraco vazio que fica, sem preenchimento. Quando cai a ficha, você vira vítima de si mesmo numa idade das trevas - ou seriam essas as trevas da idade?
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N°3
Não sei se estou vivo ou não. Tirando a areia dos meus olhos, vi meus pés longe do chão. Corpo leve como algodão, mundo morto ninguém sente, mas eu vejo diferente.

Se tudo está aqui e o meu corpo não morreu, pura verdade, grande é a transformação, eis que vem o peso do toque da mão de quem esteve lá quando eu estava só, mais de uma vez eu só quis ficar bem e fiquei bem melhor...

Quem criou o céu e o mar...

Ao acordar não terás o nó, que o prende às leis. Vi a queda de reis perante um nome só.

É por amor que ainda existo, hoje renascido em Cristo, mais um cego em Jericó.
Sei que me ouviste quando ajoelhei no chão, pedi perdão e disse adeus ao homem triste.
Vou me entregar a Ti, por tudo que aconteceu, e pelo que há de vir.
Quando segurou a minha mão, finalmente eu soube que era o Deus vivo quem esteve lá quando estava só. Mais de uma vez eu só quis ficar bem e fiquei bem melhor

Quem me ensinou a amar....

Ao acordar não terás o nó que o prende às leis.
Vi nas trevas o rei que se achou maior.
Que o poder que eu tenho visto, Grande é o nome de Cristo, e quem se humilha como Jó.
É por amor que ainda existo, hoje renascido em Cristo, mais um cego em Jericó
O poder do Sangue de Cristo, vai te levantar do pó.(Rodox - Cego de Jericó)

07 julho 2010

Sua saudade, nossas saudades...

Segundo Fagner "Saudade já tem nome de mulher", mas será que isso mesmo ? É, é sim nome de mulher. Uma mulher extraordinária!
O aurélio diz que é "lembrança nostálgica e, ao mesmo tempo suave, de pessoa ou coisa distante ou extinta. Pesar pela ausência de alguem que nos é querido."
Saudade os poetas já tentaram explicar.

O poeta Carlos Drummond de Andrade em sua poesia "Um Ausente"
Fala da saudade de alguém:
"Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, "

O músico e poeta Tom Jobim cantou "Chega de Saudade".
Então vou obedece-lo e parar de falar sobre isso...

05 fevereiro 2010

Hodie Perfecte Incipere

Não acredito que algum esforço da minha vontade possa acabar de uma vez por todas com esse desejo por riscos calculados, essa reserva fatal. Só Deus pode. Tenho fé e esperança que ele o fará. É claro que não acredito que só por causa disso eu tenho o direito de me "encostar", como dizem. O que Deus faz por nós, ele faz em nós. O processo que ele opera parecerá a mim (e não falsamente) o exercício repetido da minha própria vontade em renunciar essa atitude, feito diariamente ou até mesmo de hora em hora, especialmente a cada manhã, porque ela cresce e se estende sobre mim como uma concha todas as noites. As falhas serão perdoadas; o consentimento é que é fatal, a presença permitida e regulamentada de uma área em nós que continuamos a reivindicar para nós mesmos. É provável que, enquanto estivermos deste lado de cá da eternidade, não consigamos expulsar o invasor do nosso território, mas precisamos fazer parte da resistência, e não do governo vitorioso. E essa decisão deve, ao meu ver, ser retomada a cada dia. Nossa oração matinal deveria ser "Da hodie perfecte incipere" - rogo que ne concedas um novo começo sem falhas, já que eu ainda não fiz nada.
-de The Weight of Glory [Peso de Glória], C.S.Lewis

29 janeiro 2010

Pequeno salmo, grande Verdade

O salmista afirmou: "O Senhor é meu pastor, e nada me faltará".
Em seguida constatou orgulhoso: "Eu sou a ovelha!".

28 janeiro 2010

Equilíbrio

Cartas de um Diabo a seu aprendiz apresenta de forma ficcional, uma troca de correspondências entre um tentador mestre, Screwtape e seu aprendiz, Wormwood...

Acontece que há uma forma ainda melhor de explorar o desânimo; isto é, por meio dos pensamentos do próprio paciente sobre ele. O primeiro passo, como sempre, é manter o conhecimento fora da sua mente. Não o deixe suspeitar das leis dos altos e baixos. Faça-o achar que se esperava que o primeiro entusiasmo da sua conversão durasse para sempre, e que sua aridez atual é uma condição igualmente permanente. Uma vez tendo essa concepção errada bem fixada em sua mente, você poderá então proceder de várias formas. Tudo depende se o seu paciente é do tipo melancólico e desanimado, com tendências ao desespero, ou do tipo obstinado, capaz de afirmar que tudo vai bem. O primeiro tipo, melancólico, está se tornando raro entre os seres humanos. Caso seu paciente pertença a essa "raça", tudo se torna fácil. Oque você tem a fazer é mantê-lo longe do caminho de cristãos experientes (coisa fácil de se fazer hoje em dia), dirigir a atenção dele às passagens apropriadas das Escrituras e depois fazê-lo se empenhar no projeto desesperado de recuperar seus velhos sentimentos por meio da pura força de vontade. Aí o jogo estará ganho. Se ele for do tipo mais esperançoso, nosso trabalho será o de torná-lo mais complacente na atual fase baixa do seu espírito e gradualmente ajustá-lo a essa situação, persuadindo-o de que não está tão baixo. Em uma semana ou duas, você deverá fazê-lo se perguntar se, afinal de contas, os primeiros dias de seu cristianismo não foram um tanto radicais. Fale com ele a respeito da "moderação em todas as coisas". Se você conseguir levá-lo a pensar que "a religião só é boa até certo ponto", poderá sentir-se bastante feliz quanto à alma de seu paciente. Uma religião moderada é tão conveniente para nós quanto religião nenhuma - e mais divertida inclusive.
- The Screwtape letters/Cartas do Diabo a Seu aprendiz, C.S.Lewis

13 dezembro 2009

A Maldição da Culpa, por John Piper + Mark Driscoll

Tenho minhas reservas sobre o assunto. Se por um lado a bíblia não nos traz nada sobre a masturbação, por outro acho que deveria doer na consciência. Aqui eu exponho dois tratados sobre o assunto; minha opinião fica para o próximo post!




A Maldição da Culpa
Jonh Piper
Em 26 anos de pastorado, o mais perto que eu havia chegado de ser demitido da Igreja Batista Bethlehem foi em meados da década de 1980, depois de escrever um artigo intitulado Missões e masturbação para nosso boletim. Eu o escrevi ao voltar de uma conferência sobre missões presidida por George Verwer, presidente da Operação Mobilização. No evento ele disse como seu coração pesava pelo imenso número de jovens que sonhavam em obedecer completamente a Jesus, mas que acabavam se perdendo na inutilidade da prosperidade americana. A sensação constante de culpa e indignidade por causa de erros sexuais dava lugar, pouco a pouco, à falta de poder espiritual e ao beco sem saída da segurança e conforto da classe média.

Em outras palavras, o que George Verwer considerava trágico – e eu também considero – é que tantos jovens abandonem a causa da missão de Cristo porque ninguém lhes ensinou como lidar com a culpa que se segue ao pecado sexual. O problema vai além de não cair; a questão é como lidar com a queda para que ela não leve toda uma vida para o desperdício da mediocridade. A grande tragédia não são práticas como a masturbação ou a fornicação, e nem a pornografia. A tragédia é que Satanás usa a culpa decorrente desses pecados para extirpar todo sonho radical que a pessoa teve ou poderia vir a ter. Em vez disso, o diabo oferece uma vida feliz, certa e segura, com prazeres superficiais, até que a pessoa morra em sua cadeira de balanço, em um chalé à beira de um lago.

Hoje de manhã mesmo, Satanás pegou seu encontro das duas da manhã – seja na televisão ou na cama – e lhe disse: “Viu? Você é um derrotado. O melhor é nem adorar a Deus. Você jamais conseguirá fazer um compromisso sério para entregar sua vida a Jesus Cristo! É melhor arrumar um bom emprego, comprar uma televisão de tela plana bem grande e assistir o máximo de filmes pornográficos que agüentar”. Portanto, é preciso tirar essa arma da mão dele. Sim, claro que quero que você tenha a coragem maravilhosa de parar de percorrer os canais de televisão. Porém, mais cedo ou mais tarde, seja nesse pecado ou em outro, você vai cair. Quero ajudá-lo a lidar com a culpa e o fracasso, para que Satanás não os use para produzir mais uma vida desperdiçada.

Cristo realizou uma obra na história, antes de existirmos, que conquistou e garantiu nosso resgate e a transformação de todos que confiarem nele. A característica distintiva e crucial da salvação cristã é que seu autor, Jesus, a realizou por completo fora de nós, sem nossa ajuda. Quando colocamos nele a fé, nada acrescentamos à suficiência do que fez ao cobrir nossos pecados e alcançar a justiça que é considerada nossa. Os versículos bíblicos que apontam isso com mais clareza estão na epístola de Paulo aos Colossenses 2.13-14: “Quando vocês estavam mortos em pecados e na incircuncisão da sua carne, Deus os vivificou com Cristo. Ele nos perdoou todas as transgressões e cancelou o escrito de dívida, que consistia em ordenanças, e que nos era contrária. Ele a removeu, pregando-a na cruz”.

É preciso pensar bem nisso para entender plenamente a mais gloriosa de todas as verdades: Deus pegou o registro de todos os seus pecados – todos os erros de natureza sexual – que deixavam você exposto à ira. Em vez de esfregar o registro em seu rosto e usá-lo como prova para mandar você para o inferno, Deus o colocou na mão de Seu filho e pregou na Cruz. E quem são aqueles cujos pecados foram punidos na cruz? Todos que desistem de tentar salvar a si mesmos e confiam apenas em Cristo. E quem assumiu essa punição? Jesus. Essa substituição foi a chave para a nossa salvação.

Alguma vez você já parou para pensar no que significa Colossenses 2.15? Logo depois de afirmar que Deus pregou na cruz o registro de nossa dívida, Paulo escreve que o Senhor, “tendo despojado os poderes e as autoridades, fez deles um espetáculo público, triunfando sobre eles na cruz”. Ele se refere ao diabo e seus exércitos de demônios. Mas como são desarmados? Como são derrotados? Eles possuem muitas armas, mas perdem a única que pode nos condenar – a arma do pecado não perdoado. Deus pregou nossas culpas na cruz. Logo, houve punição por elas – então, seus efeitos acabaram! O problema é que muitos percebem tão pouco da beleza de Cristo na salvação que o Evangelho lhes parece apenas uma licença para pecar. Se tudo que você enxerga na cruz de Jesus é um salvo-conduto para continuar pecando, então você não possui a fé que salva. Precisa se prostrar e implorar a Deus para abrir seus olhos para ver a atraente glória de Jesus Cristo.

Culpa corajosa – A fé que salva recebe Jesus como Salvador e Senhor e faz dele o maior tesouro da vida. Essa fé lutará contra qualquer coisa que se coloque entre o indivíduo salvo e Cristo. Sua marca característica não é a perfeição, nem a ausência de pecados. Quem enxerga na cruz uma licença para continuar pecando não possui a fé que salva. A marca da fé é a luta contra o pecado. A justificação se relaciona estreitamente com a obra de Deus pregando nossos pecados na cruz. Justificação é o ato pelo qual o Senhor nos declara não apenas perdoados por causa da obra de Cristo, mas também justos mediante ela. Cristo levou nosso castigo e realiza nossa retidão. Quando o recebemos como Salvador e Senhor, todo o castigo que ele sofreu, e toda sua retidão, são computados como nossos. E essa justificação vence o pecado.

Possuímos uma arma poderosa para combater o diabo quando sabemos que o castigo por nossas transgressões foi integralmente cumprido em Cristo. Devemos nos apegar com força a essa verdade, usando-a quando o inimigo nos acusar pelas nossas faltas. O texto de Miquéias 7.8-9 apresenta o que devemos lhe dizer quando ele zombar de nossa aparente derrota: “Não te alegres a meu respeito; ainda que eu tenha caído, levantar-me-ei (…) Sofrerei a ira do Senhor, porque pequei contra ele, até que julgue a minha causa e execute o meu direito”. É uma espécie de “culpa corajosa” – o crente admite que errou e que Deus está tratando seriamente com ele. Mas, mesmo em disciplina, não se afasta da bendita verdade de que tem o Senhor ao seu lado!

Há vitória na manhã seguinte ao fracasso! Precisamos aprender a responder ao diabo ou a qualquer um que nos diga que o Senhor não poderá nos usar porque pecamos. “Ainda que eu tenha caído, levantar-me-ei”, frisou o profeta. “Embora eu esteja morando nas trevas, o Senhor será a minha luz.” Sim, podemos estar nas trevas da iniqüidade; podemos sentir culpa, porque somos, realmente, culpados pelo nosso pecado. Mas isso não é toda a verdade sobre o nosso Deus. O mesmo Deus que faz nossa escuridão é a luz que nos apóia em meio às trevas. O Senhor não nos abandonará; antes, defenderá a nossa causa.

Quando aprendermos a lidar com a culpa oriunda de nossos erros com esse tipo de ousadia em quebrantamento, fundamentados na justificação pela fé e na expiação substitutiva que Cristo promoveu por nós, seremos não apenas mais resistentes ao diabo como cometeremos menos falhas contra o Senhor. E, acima de tudo, Satanás não será capaz de destruir nosso sonho de viver uma vida em obediência radical a Jesus e de serviço à sua obra.

John Piper é escritor e pastor da Bethlehem
Baptist Church, em Minneapolis (EUA)

Fonte: Revista Cristianismo Hoje
http://cristianismohoje.com.br

10 setembro 2009

Independência ou...

"Ora, o Senhor é o Espírito; e, onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade."
IICor. 3:17


O mundo inteiro fala sobre liberdade sob uma ótica pós-moderna. Falamos de liberdade quando queremos apresentar desculpas sobre as nossas atitudes que, diga-se de passagem, em sua grande maioria são atitudes egocêntricas.
O pecado nos faz acreditar que, de fato, somos livres para fazer o que quisermos. Porém se analisarmos a nossa vida à luz da Bíblia e daquilo que fazemos durante sua fugacidade, diversas vezes nos confrontamos com esse conceito. Por exemplo, nós não escolhemos quando iremos nascer, nem quando iremos morrer, nem que nome nós teremos, que família teremos, onde iremos nascer e onde iremos morrer. "O homem não pode receber coisa alguma se do céu não lhe for dada"(Jo.3:27), já dizia João Batista, e com muita categoria. O grande problema da sociedade atual é crer nessa falsa sensação de liberdade, onde podemos fazer o que quisermos, indiscriminadamente, sem ter que pagar pelas nossas conseqüências. Lembro-me até hoje de determinada novela no qual a vilã, após inúmeros atos de vandalismo empresarial e moral, termina a novela fugindo impune, rindo-se de seus feitos. Mas essa sensação de liberdade que nós temos é apenas um trejeito do inimigo para descentralizar das nossas vidas a magnitude de um Deus tão soberano para nós mesmos.
O ser humano através dos séculos descobriu, ao observar a si mesmo e aos demais de sua sociedade, diversos segmentos do homem que, até então, eram ignorados. Como veículo de informação, o homem é preso àquilo que ele aprende conforme o seu desenvolvimento. Aprendemos nas escolas que nós nascemos, nos desenvolvemos, nos reproduzimos e, então, morremos, num processo repetido inúmeras vezes, geração após geração. Ao observar o ciclo da vida o homem comum avistou o que seria um ciclo viciado, onde geração vai, geração vem, e nada muda na vida do ser humano, a não ser o processo de vida de um determinado indivíduo, que seria marcado pelas suas experiências conforme ele se desenvolvia e observava os outros. Porém o homem se prendeu a essa cadeia viciosa e foi, ao longo de séculos, se desprendendo de sua moral e sua ética. E a partir daí, o homem começou a dar mais valor àquilo que ele podia tocar, ver e mostrar a público do que àquilo que ele teria de desenvolver conforme seu amadurecimento. Assim feito, o homem enfrenta agora uma nova cadeia: seu próprio EU.
Porém a liberdade descrita ao longo de toda a jornada bíblica não é esse castelo fantasioso, mas a liberdade de se ter a submissão ao pecado e suas correntes devastada, a libertação das nossas almas da condenação eterna e do peso que nossos pecados têm em nós. Paulo sabiamente afirmava que "o faço o bem que prefiro, mas o mal queo quero, esse faço"(Ro 7:19), pois ele entendia o que era a liberdade de Deus. Certo filme de Hollywood nos traz uma belíssima lição de moral ao afirmar que "grandes poderes trazem grandes responsabilidades"; se temos o poder de destruir vidas rapidamente, devemos então cuidar da nossa responsabilidade de preservá-la; se temos o poder de fazer aquilo que queremos, devemos então cuidar para fazer aquilo que é melhor para um bem comum.
Desprezo, por fim, completamente esse equivocado senso de liberdade/independência. Desprezo também, assim, toda e qualquer teoria iluminista que coloque o foco em mim, e não em Deus. Pois penso que é melhor depender de deus para que Ele tome todas as decisões por mim, do que tentar fazer à minha maneira, de qualquer jeito e acabar colocando os bois na frente da carroça.

Sem mais!

29 abril 2009

Os Valentes de Davi





Fui exortado, recentemente, a criar um blog com as minhas pregações e conclusões sobre o que eu tenho aprendido no Seminário de Teologia. Antes de mais nada, preciso me apresentar. Eu sou Daniel, e curso teologia e missões no Seminário Teológico Betel. Tenho 21 anos de idade, e esse não é meu primeiro blog. Quem quiser visitar meus blogs, eu coloco na seção de links.
Recentemente descobri que eu gosto muito das pregações embasadas sobre o meu aprendizado no Velho Testamento: suas guerras, livramentos e romances que dão a ele um ar épico e ao mesmo tempo sombrio. Com base em alguns versículos bíblicos, trago aqui neste primeiro post uma refelxão bem curta sobre um dos textos mais interessantes. Vale lembrar que os textos usados são da versão Almeida corrigida e revisada. Sem mais delongas, eis o texto.

"8 ¶ Estes são os nomes dos poderosos que Davi teve: Josebe-Bassebete, filho de Taquemoni, o principal dos capitães; este era Adino, o eznita, que se opusera a oitocentos, e os feriu de uma vez.
9 E depois dele Eleazar, filho de Dodó, filho de Aoí, entre os três valentes que estavam com Davi quando provocaram os filisteus que ali se ajuntaram à peleja, e quando se retiraram os homens de Israel.
10 Este se levantou, e feriu os filisteus, até lhe cansar a mão e ficar a mão pegada à espada; e naquele dia o SENHOR efetuou um grande livramento; e o povo voltou junto dele, somente a tomar o despojo.
11 E depois dele Samá, filho de Agé, o hararita, quando os filisteus se ajuntaram numa multidão, onde havia um pedaço de terra cheio de lentilhas, e o povo fugira de diante dos filisteus.



12 Este, pois, se pôs no meio daquele pedaço de terra, e o defendeu, e feriu os filisteus; e o SENHOR efetuou um grande livramento."
II Samuel 23:8-12

Gosto de pensar primeiro na instrumentalidade das coisas. Nesse texto há duas armas distintas as quais o narrador se refere: a lança e a espada. O texto bíblico não faz menção da arma usada por Samá em sua batalha para proteger o campo de lentilhas mas, costumeiramente, pensa-se na espada por ser um instrumento de batalha bastante comum em guerras da época. À primeira vista salta aos olhos a quantidade de homens que Josebe matou, 800 sem contar os feridos; mas logo há outros aspectos que devem ser analisados antes, como o por que de usar-se uma lança, e não uma espada como os demais. Contudo, demais versões hebraicas nos trazem a figura de uma alabarda, uma lança afiada e pontuda como qualquer outra, mas que trazia também em sua extremidade um tipo machado, no qual era usado para esmagar e cortar. Assim sendo, fica mais fácil explicar a batalha. Sendo a lança um objeto pesado, ainda que o usuário apenas a brandisse, haveria chance do oponente usar um escudo para bloquear o ataque, por mais que ele fosse jogado pra longe, continuaria vivo para o contra-ataque. Tendo na ponta uma lâmina pesada, essa lâmina poderia com facilidade decapitar, esmagar e triturar escudos e armaduras resistentes. E na batalha, ficaria mais fácil de matar 800.
Mas não é disso que vim falar. Note que Josebe matou 800, mas que o autor não faz menção do número de mortos e feridos por Eleazar. Apenas cita que numerosos foram os homens que caíram pela sua espada, de tal forma que o sangue deles saltava, formando assim uma crosta de sangue e fluidos humanos. Mas o motivo pricipal da espada ter grudado à mão dele foi o cansaço físico. Horas de batalha se passavam, e ele continuava matando e decepando, de tal forma que, de tanto apertar o cabo da espada, sua mão cansou e seus músculos travaram naquela posição. Com isso, a espada se tornara uma continuação de seu braço; ele não precisava mais brandir as espada fazendo força com as mãos; bastava sacodir o braço para que a lâmina vorpal de sua espada decapitasse mais um. E a sua contagem continuava aumentando.
Do último desses três, no entanto, sabe-se muito pouco a respeito de seus recursos e metas, mas sabe-se que ele lutou para proteger um campo de lentilhas. Para nós, acostumados com as comidas industrializadas e com os arroz e grãos em pacotinhos, isso pode parecer insignificante. Mas não é de todo verdadeiro. Aquele campo alimentava a população, alimentava o comércio e ajudava na economia da região, uma vez que podia-se vender para fora todo o excesso de lentilhas e fazer daí uma fonte de dinheiro considerável. Mas voltemos ao lado prático do texto. O texto bíblico nos fala que toda a população corria, e correndo, abandonavam os campos e sua principal fonte de alimentação. Mas de dentro do povo surgiu Samá, que foi defender o campo. Para ele não importava apenas expulsar os filisteus dali, mas em proteger também o que era de sua nação; ele se importava com as pequenas coisas que, apesar de pequenas, podiam fazer uma diferença enorme mais para frente. E bravamente ele foi e defendeu, e o Senhor operou grande libertação ali.

Quero, no entanto, atentar em trazer essas aplicações para o contexto de hoje e fazê-los refletir sobre algumas verdades que descobri. Como segundo plano, gosto de pensar na praticidade da instrumentalidade, de trazer à prática a teoria exposta a nós pela palavra de Deus.
Seria difícil fazer isso sem mencionar os objetos usados. Em toda a bíblia encontra-se o uso de objetos para as mais diferentes funções e condições; desde o cajado que protegia Moisés das feras do deserto, até à lança do centurião que perfurou a espádua de Jesus para cumprir a profecia de Isaías. Neste caso, a lança serviu para matar 800 homens, fora os aleijados e feridos. Foi usado aqui como um instrumento de efetiva matança; cortou fora o mal pelo método mais extremo, que é o da violência física. Diversas vezes os filisteus haviam ignorado a Deus e seguiram aos seus próprios deuses e crenças. Não obstante isso, ainda guerrearam contra o povo de Israel, ungidos do Senhor. Desde já gostaria de deixar bem claro que sou contra qualquer tipo de violência física extrema; sou daqueles que defendem uma palmada dada APENAS na hora certa, desde que a criança esteja ciente do por que de tal punição. A própria palavra de Deus nos dá embasamento disso, mas disso falarei outrora. Aqui friso apenas a necessidade do povo de Deus se defender e defender seu povo: crianças, mulheres e idosos que, por suas próprias limitações, não podem se defender adequadamente em casos de opressão e sítio. Se os hebreus não se defendessem, todos seriam feitos escravos, como no Egito novamente. Deus não iria deixar seu povo ser cativo após a libertação contra Faraó, e ensinou que o povo guerreasse para sua própria defesa.
Percebe onde eu quero chegar? Se a ficha ainda não caiu, vou dar uma ajuda. Constantemente em nossas vidas somos pressionados, obrigados a vivermos cativamente. A sociedade, não bastando depreciar os valores familiares, éticos e morais, quer constantemente ditar aquilo que vestimos, usamos e fazemos. Não digo que não deva existir um padrão, mas que esse padrão não deve ser motivo para que haja preconceitos - sejam eles raciais, religiosos ou de natureza moderna. Constantemente somos pressionados, como se não bastasse, pelo inimigo N°1 dos seres humanos tementes a Deus - Satanás, a serpente que introduziu o pecado e o apresentou à raça humana. E é com ele que devemos ter cuidado. Jesus, ao ser tentado por ele, usou-se do recurso mais simples e acessível ao ser humano - a Palavra de Deus! Por três vezes ele cortou o mal utilizando-se desse recurso, e o fez antes de cair em pecado. Digo que devemos ser violentos quanto às questões espirituais. A serpente quer um pedaço de você? Mostre a ela um pedaço do nosso Deus, e ela fugirá rapidamente; voltou a investir contra você, então invista contra ela também! O que não pode acontecer é abaixarmos nossa cabeça contra o inimigo. O texto bíblico não nos diz acerca dos ferimentos de Josebe, mas pode-se dizer que ele ficou ferido. Afinal, aquilo era uma guerra, e em guerras sempre há feridos. Mas por estar ferido, Josebe não desanimou e continuou a lutar; e lutando feriu mortalmente 800 homens - um número impressionante.

Em seguida, vemos o feito de Eleazar. Ferindo mortalmente vários homens, a batalha já avançava e ele estava começando a ficar cansado. Sua mão já enrijecera, de forma que seus dedos se fecharam na espada. Por cima, havia ainda o sangue que secava e formava uma cola. Por todos os lados, homens feridos gemendo pela falta de membros ou de feridas expostas. Até mesmo Eleazar estava ferido. Mas a espada agora era uma continuação de seu corpo; bastava apenas um pequeno esforço e a espada cortava aquilo que estava a sua frente.
Gosto de pensar como a palavra de Deus é uma arma poderosa. Em Efésios, Paulo discorre maravilhosamente sobre as armas e defesas de um cristão. Após ver inúmeras vezes as armaduras dos centuriões romanos e da guarda do império, Paulo faz um paralelo prático sobre o que seria a armadura do cristão. Ele diz "...e a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus" Ef 6:17. Nós cristãos deixamos a leitura diária da bíblia por questões pessoais. Eu, por exemplo, sempre estou muito cansado. Após um dia intenso de trabalho e estudos, tudo que eu quero é sentar e relaxar, esvaziar a cabeça de qualquer preocupação externa. Aquele é o meu momento, eu e Deus-ou não, pois deixo a palavra de lado, indeterminadas vezes. No parágrafo acima discorri sobre a forma de combater o mal que se levanta contra nós todos os dias; eles está lá, antes mesmo de acordarmos ou de irmos para a cama. O mal nunca descansa contra nós, nunca cessa. A serpente é a primeira a acordar e a última a dormir, sempre de pé para poder nos tragar em sua escuridão. E contra ela, a única arma efetiva é a Palavra de Deus. Jesus ao ser tentado, por três vezes usou a palavra de Deus como base em seus contra-argumentos. Ele conhecia e vivia aquilo que estava falando como a palma da mão dele, como seus próprios hábitos e costumes. Para se entrar numa guerra, é necessário conhecer os costumes de guerra do seu oponente: onde ele costuma atacar mais, que armas costuma usar primeiro, táticas de avanço, táticas de guerrilha e sobrevivencia, o campo onde se vai lutar e - pasme! - até mesmo a condição climática do local e os ventos que ali costumam soprar. Satanás sabe sobre nós. Anos a fio ele estuda o ser humano, suas práticas, seu comportamento, com quem ele costuma falar, como e o que costuma falar, como o ser humano pensa, o que o ser humano gosta, em que o homem costuma pensar e quando...Tudo isso ele conhece de nós. Ele se arma todos os dias em situações e pensamentos e se aproveita disso para nos fazer pecar. Temos que conhecer bem o nosso inimigo quando formos lutar contra ele, mas temos também que conhecer a arma que usamos para combater esse mal. Nesse caso, não conseguimos combater o império por que estamos demasiados ocupados para conhecer a bíblia, conhecer a Deus e de sua palavra de vida-Jo 6:68. O texto bíblico nos diz que a espada de Eleazar se tornou uma extensão de seu corpo; por que de tanto usá-la, ele ficou cansado e seus dedos se fecharam em torno do cabeamento. Quando lemos exaustivamente a bíblia, nosso coração se fecha em torno daquilo que lemos e absorvemos aquela sabedoria. E, assim, a bíblia se torna uma extensão do nosso próprio corpo: a partir daí podemos afastar e derrotar o mal, gerar filhos para Deus(Gn 1:28) e conhecer as armas e inimigos com os quais lidamos.
Outra forma que ajuda a combater esse mal é conhecermos a nós mesmos e nossas limitações. Eleazar estava quase no seu limite, e o Senhor sabia disso. Mas diante da exaustão e do cansaço, da visão grotesca do campo de batalha, ele estava debaixo da misericórdia de Deus, e não desistiu. Conhecer nossos limites, tanto físicos como -e principalmente- espirituais nos ajuda a vencer obstáculos e barreiras.

Por último, mas não menos importante, vemos Samá, defendendo o campo de ervilhas. Coisa engraçada, Samá defender um campo de ervilhas. A vida de Samá valia mais que um campo de ervilhas; por outro lado o campo de ervilhas poderia evitar que muitos morressem de fome. Se de um lado Samá salvasse sua vida, centenas de outros morreriam. Se por acaso ele ficasse e combatesse, havia a chance, ainda que mísera, de abater os filisteus e salvar mais vidas. Diante daquela situação, ele lutava não apenas pelo povo, mas pela fonte de sustento de uma nação. No meio do caos, no meio da devastação que os filisteus estavam fazendo, ele pensou rápido no que devia fazer. Talvez tivesse feito por impulso, já que aqueles soldados eram treinados para pensarem rápido em situações de risco emergente; talvez ele tivesse tido tempo anteriormente; qualquer que tenha sido a situação, ele se levantou e foi a luta, ainda que por uma pequena causa. Em dados momentos da Bíblia isso acontece com frequencia: Moisés foi à frente de Faraó e mais tarde veio a se tornar o amigo de Deus, a quem ele conheceu face-a-face; José foi administrador da casa de Potifar, e por ter sido leal a Deus até mesmo no cárcere, se tornou mais tarde o administrador geral do Egito. No Novo Testamento Jesus prega sobre a parábola do servo fiel, cujo ao servo lhe foi dada determinada quantia para administrar; e por administrar bem e multiplicar os bens que lhe foram dados, foi posto sobre muitos outros bens para estarem debaixo de suas decisões. Portanto, Samá nos ensina uma incrível lição: não importa pelo que estamos lutando, com o que e contra o que...o que importa é sermos fiéis a Deus com tudo que nos é dado, por que um dia isso nos será cobrado. E, cobrados, estaremos contentes em mostrar ao Pai aquilo que nós temos em mãos?

Que o Senhor nos abençoe e nos guarde!