23 agosto 2010

Ensaios sobre a escuridão

N°1
Dor que te rasga de cima a baixo. Quando foi que as coisas ficaram tão insensíveis, sem sal, jogadas à escuridão como um cristão ao Coliseu? Eram bons os tempos em que a hora passava mais devagar, quando não se tinha muitas preocupações, jogávamos papo para os ares na varanda sem preocupar-se com a hora de chegar em casa...
As pessoas crescem. Os problemas crescem, as preocupações crescem, sua ansiedade cresce. De repente as coisas se tornam grandes demais, rochas solidas contra os seus ombros cansados; as paredes ao seu redor rugem de satisfação quando você constata que elas estão cada vez mais perto tirando de você o seu ar, comprimindo seus pensamentos, emoções e ações. "Nunca mais na vida eu vou ver o mundo que me espera", você pensa enquanto ao seu redor tudo parece comprimir seus ossos. Seus pensamentos se tornam escassos, sua respiração mais ofegante, seus olhos não conseguem escarar outra coisa senão seu próprio interior.
Vida de merda - muitos pensam. Vida de merda sim, mas não culpe os outros. Quem se trancou entre quatro paredes foi você mesmo, com sua ingenuidade, pensando que a qualquer momento você poderia sair. Mas não pode. Agora você se encontra aí, preso por sua própria causa, vítima da sua própria inconsequencia, número da sua própria estatística. Afinal, eu tinha a chave na mão para qualquer porta, mas decidi entrar nessa, nesse buraco escuro e frio de mim mesmo. Por saber que a chave estava em minhas mãos, pensei que pudesse achar a porta com facilidade. Doce ilusão, me deti em minha própria cela, vitima de mim mesmo.
Já me disseram anteriormente que o ser humano é o pior inimigo que ele mesmo tem. Me questiono sobre a veracidade disso, embora não possa negar que, se me encontro num período de trevas, a culpa é minha. A chave não devia em momento nenhum estar em minhas mãos. Sou irresponsável, imaturo e, ainda por cima, orgulhoso. Vítima de mim mesmo. E agora a escuridão avança. Idade das trevas. Trevas da idade...

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N°2
A escuridão já foi minha amiga intima. Andávamos juntos em meio a labaredas de fogo, sem saber que quem se queimava era eu. Mas a escuridão é assim mesmo. Ela entorpece os sentidos, endurece o coração, penetra como uma faca afiada bem no fundo da sua humildade efaz sangrar até a última gota o restinho de esperança em você. Alegria não faz mais parte do seu dia-a-dia. Depressão se torna sua mais nova confiança - confiança de que, um dia, tudo vai se acabar em uma poça de sangue na cozinha de casa, com uma faca atravessada em sua garganta e uma marca eterna na mente dos outros. Você fere a si mesmo, mas no fundo, você quer ferir os outros, culpando-os pela sua própria miséria e desgosto. Essa se torna a sua vingança contra a sociedade, contra seus parentes, contra Deus, contra um sistema pecaminoso e injusto que pune os desgraçados e exalta os mentirosos. Esse se torna o seu protesto contra tudo aquilo que você não consegue colocar na cara dos outros; sua culpa devora seu interior, faz de você uma pessoa oca, sem sentimentos, sem reações - uma pessoa fria, indiferente, mas uma pessoa inabalável. É assim quando um osso quebra; ele calcifica e fica mais forte, de forma que nunca quebra duas vezes no mesmo lugar. É isso que a culpa faz com um ser - ela fere de tal forma que a esperança, o amor, a fé, a compaixão, a alegria e a felicidade nunca crescem novamente no mesmo lugar. Buraco vazio que fica, sem preenchimento. Quando cai a ficha, você vira vítima de si mesmo numa idade das trevas - ou seriam essas as trevas da idade?
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N°3
Não sei se estou vivo ou não. Tirando a areia dos meus olhos, vi meus pés longe do chão. Corpo leve como algodão, mundo morto ninguém sente, mas eu vejo diferente.

Se tudo está aqui e o meu corpo não morreu, pura verdade, grande é a transformação, eis que vem o peso do toque da mão de quem esteve lá quando eu estava só, mais de uma vez eu só quis ficar bem e fiquei bem melhor...

Quem criou o céu e o mar...

Ao acordar não terás o nó, que o prende às leis. Vi a queda de reis perante um nome só.

É por amor que ainda existo, hoje renascido em Cristo, mais um cego em Jericó.
Sei que me ouviste quando ajoelhei no chão, pedi perdão e disse adeus ao homem triste.
Vou me entregar a Ti, por tudo que aconteceu, e pelo que há de vir.
Quando segurou a minha mão, finalmente eu soube que era o Deus vivo quem esteve lá quando estava só. Mais de uma vez eu só quis ficar bem e fiquei bem melhor

Quem me ensinou a amar....

Ao acordar não terás o nó que o prende às leis.
Vi nas trevas o rei que se achou maior.
Que o poder que eu tenho visto, Grande é o nome de Cristo, e quem se humilha como Jó.
É por amor que ainda existo, hoje renascido em Cristo, mais um cego em Jericó
O poder do Sangue de Cristo, vai te levantar do pó.(Rodox - Cego de Jericó)

07 julho 2010

Sua saudade, nossas saudades...

Segundo Fagner "Saudade já tem nome de mulher", mas será que isso mesmo ? É, é sim nome de mulher. Uma mulher extraordinária!
O aurélio diz que é "lembrança nostálgica e, ao mesmo tempo suave, de pessoa ou coisa distante ou extinta. Pesar pela ausência de alguem que nos é querido."
Saudade os poetas já tentaram explicar.

O poeta Carlos Drummond de Andrade em sua poesia "Um Ausente"
Fala da saudade de alguém:
"Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, "

O músico e poeta Tom Jobim cantou "Chega de Saudade".
Então vou obedece-lo e parar de falar sobre isso...

05 fevereiro 2010

Hodie Perfecte Incipere

Não acredito que algum esforço da minha vontade possa acabar de uma vez por todas com esse desejo por riscos calculados, essa reserva fatal. Só Deus pode. Tenho fé e esperança que ele o fará. É claro que não acredito que só por causa disso eu tenho o direito de me "encostar", como dizem. O que Deus faz por nós, ele faz em nós. O processo que ele opera parecerá a mim (e não falsamente) o exercício repetido da minha própria vontade em renunciar essa atitude, feito diariamente ou até mesmo de hora em hora, especialmente a cada manhã, porque ela cresce e se estende sobre mim como uma concha todas as noites. As falhas serão perdoadas; o consentimento é que é fatal, a presença permitida e regulamentada de uma área em nós que continuamos a reivindicar para nós mesmos. É provável que, enquanto estivermos deste lado de cá da eternidade, não consigamos expulsar o invasor do nosso território, mas precisamos fazer parte da resistência, e não do governo vitorioso. E essa decisão deve, ao meu ver, ser retomada a cada dia. Nossa oração matinal deveria ser "Da hodie perfecte incipere" - rogo que ne concedas um novo começo sem falhas, já que eu ainda não fiz nada.
-de The Weight of Glory [Peso de Glória], C.S.Lewis

29 janeiro 2010

Pequeno salmo, grande Verdade

O salmista afirmou: "O Senhor é meu pastor, e nada me faltará".
Em seguida constatou orgulhoso: "Eu sou a ovelha!".

28 janeiro 2010

Equilíbrio

Cartas de um Diabo a seu aprendiz apresenta de forma ficcional, uma troca de correspondências entre um tentador mestre, Screwtape e seu aprendiz, Wormwood...

Acontece que há uma forma ainda melhor de explorar o desânimo; isto é, por meio dos pensamentos do próprio paciente sobre ele. O primeiro passo, como sempre, é manter o conhecimento fora da sua mente. Não o deixe suspeitar das leis dos altos e baixos. Faça-o achar que se esperava que o primeiro entusiasmo da sua conversão durasse para sempre, e que sua aridez atual é uma condição igualmente permanente. Uma vez tendo essa concepção errada bem fixada em sua mente, você poderá então proceder de várias formas. Tudo depende se o seu paciente é do tipo melancólico e desanimado, com tendências ao desespero, ou do tipo obstinado, capaz de afirmar que tudo vai bem. O primeiro tipo, melancólico, está se tornando raro entre os seres humanos. Caso seu paciente pertença a essa "raça", tudo se torna fácil. Oque você tem a fazer é mantê-lo longe do caminho de cristãos experientes (coisa fácil de se fazer hoje em dia), dirigir a atenção dele às passagens apropriadas das Escrituras e depois fazê-lo se empenhar no projeto desesperado de recuperar seus velhos sentimentos por meio da pura força de vontade. Aí o jogo estará ganho. Se ele for do tipo mais esperançoso, nosso trabalho será o de torná-lo mais complacente na atual fase baixa do seu espírito e gradualmente ajustá-lo a essa situação, persuadindo-o de que não está tão baixo. Em uma semana ou duas, você deverá fazê-lo se perguntar se, afinal de contas, os primeiros dias de seu cristianismo não foram um tanto radicais. Fale com ele a respeito da "moderação em todas as coisas". Se você conseguir levá-lo a pensar que "a religião só é boa até certo ponto", poderá sentir-se bastante feliz quanto à alma de seu paciente. Uma religião moderada é tão conveniente para nós quanto religião nenhuma - e mais divertida inclusive.
- The Screwtape letters/Cartas do Diabo a Seu aprendiz, C.S.Lewis